sexta-feira, 24 de setembro de 2010





Desabafo de uma Timeholic

Ela achava que estava livre daquele furor das horas que passam, correm, voam talvez, mas não. Tornaram-se, por fim, donas daquela que não tinha controle sobre si e muito menos sobre o que fazia. O tempo era uma coisa que sempre a havia intrigado (e atrapalhado) desde que seus sapatos cabiam em suas bonecas. Desde o início, era ela correndo atrás do tempo, ao lado dele, em um desdobramento enlouquecido e cansativo para organizar-se e, se possível, um dia talvez, andar calmamente à frente desse tempo. Mas isso nunca acontecia. Certa vez, em uma corrida, estava emparelhada tète à tète com o adversário, as noites sem dormir escorrendo em seu rosto como em um dia claro que o sol reflete na superfície da pele, até que papéis caíram tempestuosamente ao barulho de trovões e ela se perdeu em meio deles perdendo, é claro, a competição mais uma vez. A ocasião não foi única, tanto que fizeram-na crer que um dia pudesse vir a ganhar. Ledo engano. Cada vez mais ela era engolida por essas horas teimosas pela ambição de dominá-la. E as amarras já estavam feitas e estabelecidas sufocando-a ao ponto do ar lhe faltar no pulmão e suas pernas não terem mais força para correr. Sua nova estratégia seria a esquiva, talvez a última antes de um derradeiro fim caótico que lhe aguarda. O tempo, as horas, o dia, o mês são muitos e, por não serem humanos como vocês sabem, não conseguem parar nem alentar, são puras máquinas criadas por alguém para tentar organizar o mundo que ela vive. O problema, amigos, é que nunca causou outra coisa que não fosse a sua loucura, tornando-a escrava de um sistema minutário exaustivo e infinito que concorre com ela de uma forma injusta sem chance de resultados positivos.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Eu sim.

Eu não guardo rancor, eu guardo receios.
Eu não fico magoado, eu estabeleço limites.
Eu não tenho ira, indigno-me.
Eu não choro, eu traduzo pensamento em lágrima.
Eu não brigo, eu questiono, importuno.
Eu não bato, eu me bato.
Eu não xingo, eu falo sem pensar.
Eu não escrevo, eu extravaso.
Eu não fotografo, eu troco de olho.
Eu não danço, eu vivo.
Eu não desenho, eu coloro o mundo.
Eu não canso, eu renovo.
Eu não corro, eu fico.
Eu não pulo, eu vôo.
Eu não vôo, perco-me.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Protótipo do pré tipo
estendido
que estapeia
o tapete
e incendeia o inter
do externo
encadeando aquele
preliminar primitivo
do tipo
logo após do pé
e do pré