quarta-feira, 16 de junho de 2010

Correio da Madrugada




Querido companheiro das madrugadas,

Ai de mim se não fosses tu, somente tu.
Para me estalar as pálpebras quando estas lentamente teimam em se abraçar.
Infelizmente, ou felizmente, não te expressas muito, deixando-me falar sozinha na maior parte do tempo escuro que jaz lá fora. O que acontece se durante uma de minhas falas, perco-me nela e adormeço?
Injurio-me contigo?
Provavelmente terias teus motivos para me deixar dormir. Porém eu, caro, mais tenho para o oposto.
Não me deixais cair na tentação desse sono que nem ao menos sinto ainda.
É o cansaço que me tenta, esse pequeno demônio que, como tu, me acompanha por toda noite lancinate.
É ele que direciona todo o meu pensamento para o menos urgente e o mais latejante.
Portanto, amigo, me escuta e compreende, deixando-me falar todas as baboseiras que me coçam os miolos para livrar-me logo delas e conseguir terminar minhas tarefas a tempo.
A tempo de que? De não enlouquecer mais ainda com as que surgirão amanhã e depois, pois são indiscutíveis suas aparições quando menos precisamos.
Despeço-me, então, ao escutar nosso amigo Philip (Glass, caso não recorde) chamando-me para as urgências a fazer.

Aguardo um mínimo de resposta,
Tua.

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